Categoria: Artigos
Data: 10/03/2024

Quem matou Jesus, Pedro? - Lucas 22.31-34

Sinopse da série

Se eu perguntasse para você: O que é a Páscoa? O que você diria? Feriado prolongado? Ovos de chocolate? Só é possível entender no panorama da aliança. Quando Israel estava escravizado no Egito, descrito no livro de Êxodo, Deus se moveu para libertar o seu povo e a Páscoa é o ponto alto (Êxodo 12.17).

Na primeira celebração o povo de Deus é direcionado à passar sangue de cordeiro nos umbrais das portas das casas para que eles fossem protegidos da praga que viria (Êxodo 12.23). Para os israelitas, daí em diante, aquela cerimônia haveria de lembrar-lhes que Deus os libertara da escravidão e quando os filhos perguntassem aos pais: “Que rito é esse?”, a resposta faria referência à libertação realizada por Deus (Êxodo 13.14-16).

As festas celebradas não possuíam apenas um sentido histórico, mas também apontavam para o futuro. Daí os sentidos figurados nos elementos utilizados. O cordeiro puro, que era sacrificado, apontava para o Cordeiro de Deus que viria (João 1.29). O evangelista Lucas nos conta, a partir do capítulo 22, sobre Jesus, numa trama iniciada exatamente na época da festa de páscoa (v.1).

É em Lucas 22.47-65 que vamos refletir em lições importante que nos mostra como essa trama impacta nossas vidas hoje.

Contextualização do texto

Quando lemos o livro de Lucas, principalmente na perspectiva de nossa última série: "Parábolas"; percebemos que à medida que o fim do livro se aproxima, a tensão entre os religiosos e Jesus cresce. O pico dessa tensão é exposto quando a delegação do sinédrio questiona Jesus sobre sua autoridade (cap.20.19).

Depois disso, a trama para matar Jesus é iniciada. Jesus foi assassinado, um homem inocente foi crucificado de maneira brutal. Mas quem foi o responsável pela morte de Jesus? Quem é o culpado? No último dia que antecedeu a morte de Jesus, seu caminho cruzou com diversas pessoas que interferiram em sua sentença e condenação.

E isso importa? Sim, pois saber quem é o culpado pode nos ensinar lições preciosas, nos levando a entender o porquê a história de Jesus transcendeu o tempo e espaço e ganha novos seguidores ainda hoje.

1- A falsa conversão - v.31-34

Um outro personagem presente na trama apresentada por Lucas é o apóstolo Pedro. A conversa começa com Jesus dizendo que Satanás suplicou para peneirar os discípulos - σινιζω - tentar a fé até o limite. Além de Judas, Satanás quis derrubar Pedro e os outros discípulos, ele queria tentar a fé usando suas fraquezas (v.31). Mas Satanás não age sem permissão e ainda, Jesus intercede para o fortalecimento da fé de Pedro, isso, para que ele fortaleça os irmãos quando ele se converter (v.32). Mas Pedro já se acha convertido, quando a prova da conversão seria ele fortalecer os irmãos (v.33-34).

Satanás está sempre no nosso cotidiano para tentar a fé. Importante ponderar que não é porque você foi contrariado ou teve uma discussão com seu cônjuge/filhos/pais/ amigos que você pode dizer: “sai daqui satanás!” Nem terceirizar pro Diabo o que é a sua responsabilidade: “bati o carro; queimou a TV; estou gordinho? É o Diabo”. Porém, é no cotidiano que nossas fraquezas são expostas, e é por onde Satanás vai tentar a sua fé. Você é alguém estourado? Satanás vai usar essa brecha em situações de sua rotina para te convencer que a explosão é a única saída. Sua fraqueza é vaidade? Satanás vai usar essa brecha para você buscar ser amado e admirado mesmo que isso machuque outros.

Sua brecha é a mentira? Na pressão das situações cotidianas, Satanás dirá que a mentira é a solução. Entenda, Satanás quer tentar sua fé e é pela sua brecha que ele entrará. Por outro lado, Satanás só tenta os limites da fé dentro da permissão de Deus. Não é uma disputa de bem ou mal, Satanás não está numa guerra contra Deus, ele não é mais poderoso ou compete de igual modo com Deus.

Por isso, essa conversa de que o poder de Satanás está controlando sua vida, ou que você precisa saber a potestade que se levantou contra você, e que você precisa falar com autoridade para que o demônio saia da sua casa, se você tem o espírito de Deus em você, tudo isso é balela. Satanás só age debaixo da permissão de Deus. Agora, o mais interessante é Pedro se achando convertido. Muitos se acham convertidos por frequentar uma igreja de vez em quando, contribuir financeiramente quando tem oportunidade, ajudar com algum trabalho voluntário quando encaixa na agenda, porém eles não se comprometeram de verdade em fortalecer os irmãos.

Você pode até dizer que é um discípulo de Jesus, mas se nessa semana você não tirou um dia para orar pelas famílias da comunidade, se você não consegue ser um voluntário pois o serviço tem que encaixar na sua agenda e não na necessidade dos irmãos e irmãs, desculpa, mas há um risco de você se achar convertido e na verdade ainda não ser.

2- A negação - v.54-60

Pedro disse que estava pronto para dar a sua vida, ao se sentir confrontado sobre sua conversão, mas o que percebemos nesse texto é alguém que acompanhava de longe o sofrimento de Jesus (v.54). Apesar desse momento tenso e único da história, Pedro tenta viver a normalidade. No frio da noite ele se senta com algumas pessoas no pátio, tenta esquentar as mãos como as pessoas normais fazem (v.55). Nessa normalidade, Pedro nega Jesus. Nega se misturando com os inertes, nega aceitando uma melhor proposta no momento difícil, nega querendo ser reconhecido de outra forma (v.56-60).

A aplicação desse texto é simples, nós negamos Deus. Negamos Deus na criação, quando em Gênesis, Deus cria o ser humano a sua imagem e semelhança, mas a humanidade se rebela. Negamos Deus na queda, pois apesar do pecado ter entrado no mundo, Deus não deixou de agir em direção ao ser humano, foi através de Noé, Abraão e Moisés, mas em toda a história, a humanidade continua negando Deus e seguindo sua autonomia. Negamos Deus em Jesus, quando nosso Senhor se fez homem, habitou entre nós para morrer pelos nossos pecados e mesmo assim, estava lá os religiosos e a multidão pedindo que ele fosse crucificado. E morrendo por nós para nos trazer perdão, indo em direção ao ser humano, ainda hoje nós negamos Deus. Negamos Deus quando seguimos a vida de Jesus de forma distante.

São os seguidores que ficam de longe, só analisando o movimento. Não querem se envolver com as pessoas, não querem se comprometer com a comunidade de discípulos, estão seguindo a distância, para ver o que vai dar. Usam a desculpa do medo de se decepcionar, ou do medo de ser incompreendido com sua forma de pensar, ou mesmo o medo de ter que mexer em coisas obscuras ou que tomam o lugar de Jesus. O medo leva muitos que estão em meio aos discípulos, seguirem Jesus a distância. Também negamos Deus em meio a normalidade.

São aqueles que dizem andar com Jesus, mas se misturam na normalidade de uma geração inerte e relativista com o pecado. São os que dizem ser um dos discípulos de Jesus, mas se apegam em qualquer proposta que apareça num momento de crise, mesmo que não seja a vontade de Deus. São aqueles que parecem muito com os discípulos de Jesus, mas o negam pois querem ser conhecidos pelo seu legado, posses, sucesso, pelo que quer pessoa normal quer.

3- O olhar transformador - v.61-62

O relato de Lucas é um dos mais impressionantes, ele diz que o Senhor voltou os olhos em direção a Pedro. No momento de maior negação, houve um olhar de Jesus, um olhar que trouxe vergonha e confronto, pois é um olhar que lembra Pedro das palavras que foram ditas (v.61). Após isso, a ficha cai e as palavras de Jesus conduzem o coração de Pedro a perceber que realmente ele não era tão convertido assim. Seu ego é arrebentado pelo olhar de Jesus e um arrependimento profundo o alcança ao ponto de chorar amargamente.

Aqui nasce a verdadeira conversão de Pedro (v.62). Talvez você possa chegar nesse momento da mensagem e pensar: “Talvez eu não seja tão convertido assim, eu preciso mudar demais." Talvez você pense: "como é difícil, pastor eu me sinto envergonhado". Enquanto para alguns isso pode ser um desespero, para mim é uma alegria, porque se você pensa assim é porque o olhar de Jesus te encontrou. Da mesma forma que ele olhou para Pedro ele olha nos seus olhos nesse dia. E o olhar dele, a princípio, gera vergonha, pois traz luz aos seus erros, traz à tona suas brechas, mas é nesse olhar que você reconhece quem você foi, quem você é e quem você deseja ser.

É nesse olhar que o arrependimento é gerado. Aliás essa é uma das partes mais lindas do evangelho, não é nós que nos arrependemos porque somos bonzinhos, é o olhar misericordioso de Jesus que nos encontra e gera o arrependimento. E aqui está a grande ideia dessa mensagem, somos verdadeiros discípulos quando reflexões de Páscoa nos fazem chorar amargamente por ver nosso Jesus sofrendo pelos nossos pecados e mesmo assim ele nos encontra com seu olhar.

Somos convertidos profundamente quando reconhecemos nossas brechas e oramos para que Satanás não aja através delas. Somos verdadeiros discípulos quando percebemos que negamos Jesus seguindo um evangelho a distância ou se perdendo na normalidade. Somos convertidos quando sentimos vergonha pelas nossas escolhas, decisões e palavras que não são de Deus. Somos restaurados como discípulos quando o fortalecimento que recebemos não para em nós mesmos, mas fortalece os irmãos e irmãs da fé.

É o que João nos relata (João 21.15-17) contando que Pedro foi restaurado por Jesus, não por responder três vezes que ama Jesus contrapondo as três vezes que ele negou Jesus, mas por concordar, três vezes, com Jesus dizendo: “cuide das minhas ovelhas”.

Minha oração Que Deus nos livre da falsa conversão, onde só palavras importam, mas a vida prática é abandonada. Que Jesus nos perdoe por muitas vezes negá-lo. Mas que o Espírito Santo nos toques com o olhar do cordeiro, que morreu por nós, que nos fortalece, para que possamos viver para fortalecer uns aos outros.


Autor: Kariston Fiori   |   Visualizações: 288 pessoas
Compartilhar: Facebook Twitter LinkedIn Whatsapp

Deixe seu comentário