
Hoje nós estamos iniciando uma nova série chamada “Um prisioneiro da liberdade", Nós faremos uma introdução a esse tema com a carta de Judas, abordando o que nós entendemos como a liberdade sob a visão da vida cristã, e posteriormente o Rev. Kariston dará seguimento à série com reflexões na carta de Filemon.
Desde os tempos bíblicos e até a volta de Cristo, existe uma guerra espiritual incessante travada pelo maligno para desacreditar a Palavra de Deus, buscando desvirtuar o Evangelho ao prometer uma “falsa liberdade” que, na realidade, afasta as pessoas da verdade divina. Diante disso, a missão do cristão é agir com misericórdia para com aqueles que estão sendo influenciados por esse mal, lutando para permanecer e proclamar a verdadeira liberdade.
Vamos então analisar essa perspectiva à luz das escrituras, na mensagem registrada na carta de Judas.
A maioria dos teólogos atribuem essa carta a Judas, irmão de Jesus, visto que ele se identifica como irmão de Tiago (Mt. 13,55), conhecidamente irmão do Senhor e reputado como uma das colunas na igreja de Jerusalém (Gl 1, 18-19).
Judas apresenta uma situação de grande importância à comunidade da época: eles enfrentaram por cerca de 150 anos as ideias do gnosticismo. Eles deturpavam a ideia da graça - que é a justificação por meio da fé - dando a entender que não havia mais obrigação em levar uma vida moral: alegavam que a carne era naturalmente corrompida pelo pecado, então poderiam se entregar a uma vida dissoluta, pois a alma seria salva através da obtenção de um grande conhecimento que não se restringia ao Evangelho.
1- As falsas liberdades - a banalização da graça (v. 5 -15)
Diante desse pano de fundo, Judas nos traz alguns fatores:
Nas escrituras já haviam casos de pessoas que escolheram outros caminhos, mas o fim foi condenação (v. 5-7):
Temos três exemplos no texto: O povo liberto do Egito, que mesmo presenciando milagres e maravilhas, foram incrédulos para a conquista da terra prometida; os anjos que se rebelaram contra a soberania de Deus e o povo de Sodoma e Gomorra que se render à imoralidade sexual. Com esses casos, Judas mostra que sempre houve aqueles que se afastaram da verdade, deram antes mais importância a si mesmos e suas vontades e o fim não foi o que esperavam.
A escolha por viver suas próprias liberdades é contraditória ao que a palavra diz, então invariavelmente há questionamento doutrinário (v. 8-15).
Na época da carta, havia desprezo pela lei e questionamento da autoridade espiritual, como demonstram os exemplos de Caim, Balaão e Corá. Isso afetava a forma como as verdades espirituais eram tratadas. Hoje, algo semelhante acontece: muitos criam doutrinas próprias, reinterpretam a Bíblia com arrogância intelectual e acabam demonstrando ignorância espiritual. E esse desvirtuamento doutrinário só ganha espaço porque ele teoriza que já acontece na prática. As escrituras são silenciosamente distorcidas quando pessoas dizem crer, mas vivem de forma incoerente, com pecados escondidos e uma religiosidade superficial. Falsos mestres ganham espaço por apenas estarem dando amparo interpretativo a tais práticas. Eles são comparados a rochas submersas, nuvens sem água e árvores sem frutos — imperceptíveis à primeira vista, mas causadores de grandes danos espirituais.
O versículo 16 nos revela algo muito interessante: a motivação por trás de tanta adulteração das verdades bíblicas é a tentativa de anestesiar a própria consciência. A verdade é que nenhuma falsa liberdade traz felicidade verdadeira, por essa razão os falsos mestres são murmuradores e pessoas descontentes. E por quê, por mais que busquem um respaldo para as falsas liberdades, nunca se sentem satisfeitos? A Bíblia nos revela que o pecado original da humanidade foi justamente adquirir o conhecimento do bem e do mal. Então por mais que tentem, intimamente o ser humano entende que está fora do propósito divino em seus caminhos e isso traz tristeza e falta de sentido na vida.
Blaise Pascal disse: “Há um vazio no formato de Deus no coração de todo homem.”
Judas diz: lembrem-se das palavras de nosso Senhor Jesus Cristo! Lembrem-se que lá no Éden o pecado entrou no mundo e partir disso todos nós pecamos e fomos destituídos da graça de Deus (total degradação) - fomos assim separados da graça de vida que nos fazia plenos. Mas Deus tinha um plano - O Verbo de Deus se fez carne, habitou entre nós sem pecado e pagou o preço da justiça de Deus, um sacrifício substitutivo pelos nossos pecados.
Os prazeres mundanos não conseguem preencher o vazio existencial das pessoas, pois fomos criados para a glória de Deus. Apenas a restauração do relacionamento com Deus, quebrado pelo pecado, pode dar sentido à vida. Essa restauração foi conquistada por Cristo na cruz. Através da fé no sacrifício de Cristo, podemos ter paz com Deus e experimentar verdadeira liberdade, plenitude, livrando-nos da necessidade insaciável que o pecado impõe e do vazio que nada no mundo pode preencher.
Em posse dessa restauração em Cristo, que nos torna verdadeiramente satisfeitos, nossa liberdade é acompanhada pela submissão à verdade bíblica, que alimenta nossas almas, mesmo diante da oposição do mundo. Essa liberdade também se expressa em uma vida de oração intensa no Espírito Santo, pois a restauração da comunhão com Deus nos leva a cultivar um relacionamento contínuo com Ele.
Uma vez tendo comunhão intensa com o nosso Criador, passamos a olhar o próximo pelos olhos do Espírito Santo – temos compaixão, especialmente por aqueles enganados pela mentira. Nosso amor pelo próximo deve se manifestar em misericórdia, esclarecimento e intercessão, lembrando que nossa luta é espiritual e não contra pessoas, que precisam de nosso apoio e oração.
Judas fala até em arrebatá-los do fogo, numa ação emergencial, sem contudo nos deixar contaminar nesse processo. Como a própria palavra diz: Aquele que pensa estar em pé veja que não caia (1 Co 19,12). Por esse motivo, devemos olhar para os irmãos com amor, sabendo que não somos em nada especiais e imunes, somos todos fracos e dependentes da graça e do livramento do Senhor.
Minha oração
Que possamos então fazer dos últimos versículos da carta de
Judas a nossa oração:
E ao Deus que é poderoso para evitar que vocês tropecem e que pode apresentá-los irrepreensíveis diante da sua glória, com grande alegria, a este que é o único Deus, nosso