Categoria: Artigos
Data: 28/07/2025
Um prisioneiro que acredita nas pessoas - Filemom 1.17-25

Sinopse da série
Em nosso mundo contemporâneo, a liberdade é frequentemente definida pela
autonomia e pela ausência de restrições. Buscamos incessantemente fazer o
que, quando e como queremos. O problema é que esse tipo de liberdade não
preenche nosso vazio e, 
muitas vezes, nos encontramos presos a expectativas
sociais, à autonomia superficial ou a 
um egoísmo profundo.
O filósofo alemão Immanuel Kant disse: ”A vontade é, pois, a faculdade de se
determinar a si mesma a agir em conformidade com a representação de certas
leis, e uma tal faculdade só se pode encontrar em seres racionais.” Ou seja,
liberdade não é 
fazer o que se quer, mas é ter a capacidade de escolher o que
se deve fazer.
Essa reflexão paradoxal sobre liberdade não é de hoje e muito menos de Kant.

Contextualização do livro
No início da carta a Filemom, Paulo se apresenta como ”...prisioneiro de Cristo
Jesus”. Isso é contraditório, já que Jesus Cristo disse que veio para libertar as
pessoas e não para prender (João 8.36). O reformador João Calvino, em seu
comentário sobre a 
carta de Filemom, explica dizendo que: "ele agora se
qualifica de seu prisioneiro, visto 
que as cadeias com que se encontrava
acorrentado por causa do evangelho eram os 
ornamentos ou emblemas da
comissão que desempenhava por amor a Cristo”.
Ou seja, Paulo está nos ensinando que a verdadeira liberdade floresce na
entrega a um propósito maior, uma missão que desenvolve paixão por servir
a Deus e clamar 
pelas pessoas, acima de tudo. De quem temos sido
prisioneiros: de Cristo ou de nós 
mesmos? A segunda reflexão é que Um
prisioneiro que acredita nas pessoas (v.17-25).

1- Livre para se sentir bem - v.17-18
Paulo pede para que Filemom receba Onésimo como se o estivesse 
recebendo. Nas entrelinhas, Paulo está combatendo a escravidão, já que,
para a cultura da época, Onésimo é um escravo, e Paulo, um romano; então,
eles não deveriam ser tratados de forma igual. Ainda, Paulo diz que assumiria
a dívida de Onésimo. Nas linhas, Paulo poderia pedir algo para ele se sentir
bem, mas ele procura o bem de Onésimo (v.17-18).
Vivemos um tempo onde as pessoas, em nome de serem livres, só topam
relações e compromissos que elas se sentem inteiramente bem. Se não se
sentem bem no trabalho, trocam de área. Se não se sentem bem em casa, se
separam. Se não se sentem bem com os amigos, procuram novas amizades; o
importante é se sentir bem apenas.
Mas isso também acontece no ambiente religioso. Pessoas deixam de servir na
igreja porque não se sentem bem com as regras da equipe. Outros rompem
em seus GCs porque não se sentem bem com as divergências. Alguns causam
divisão com conversas de tenda, e quando não conseguem o que querem,
procuram outra igreja porque querem se sentir bem. Outros fazem isso tudo
por preguiça mesmo, para se sentir bem.
Em nome da liberdade de pensar em si, em nome dos nossos gostos e formas,
em nome de se sentir bem, simplesmente descartamos as histórias e relações,
muitas vezes construídas por anos. Estamos presos no bem-estar, mesmo que
custe o bem do outro.

2- A dívida foi paga - v.19
A frase: “escrevo de próprio punho” formalizava um contrato com validade
jurídica. Paulo poderia pedir qualquer coisa para si com esse peso, mas ele
prefere se gastar por outra pessoa. O apóstolo faz uma conexão entre Filemom
e Onésimo: os dois são devedores. Ele está falando de algo que vai além dos
acordos dessa vida...
Deus criou o ser humano à sua imagem e semelhança; tudo estava em
harmonia. Mas, no anseio de uma liberdade autônoma, o ser humano se
afastou de seu criador, e o caos reinou. Hoje, vivemos essa busca incessante
por nos sentir bem a qualquer custo, descartando relações com os outros e
com Deus, e nos tornamos devedores.
Mas Deus enviou seu filho Jesus para viver entre nós. Ele não pecou em nada
e, ainda, com seu corpo esmagado na cruz e seu sangue escorrido no
madeiro, ele usa o seu crédito de perfeição para morrer pelas nossas dívidas
(Cl 2.13-14).
Mas Ele ressuscitou, e sua vida nos guia para uma liberdade que vai além do
nosso bem-estar.
Assim, como prisioneiros da liberdade que é Cristo, que as decisões de nossa
vida comunitária e religiosa, de nossas relações em todas as esferas, possam
falar menos de como nos sentimos bem e mais de como ajudamos e
abençoamos os outros.

3- Reanime e acredite nos arrependidos - v.20-25
Se Filemom perdoar Onésimo e tratando-o como irmão em Cristo, para Paulo, 
isso é um presente que reanima seu coração (v.20).
Diante das lutas e feridas, muitos se afastam do ambiente comunitário. Mas o
coração é reanimado enquanto adoramos a Deus nos encontros dominicais,
ou enquanto pastoreamos mutuamente em meio aos GCs, ou ainda, enquanto
nos voluntariamos para ver os pecadores se arrependendo. Aliás, todo povo de
Deus, supostamente, é um pecador arrependido. Diante das prisões que
tentam nos cercar, nosso coração é reanimado quando, de nossas mãos,
pecadores são levados ao arrependimento.
Nesse texto, há uma reflexão profunda sobre acreditar nas pessoas. Paulo
acredita que Filemom fará mais do que ele pediu (v.21). E, ao encerrar, dois
nomes mencionados chamam a atenção: Marcos e Demas (v.22-25). Marcos o
abandonou em uma viagem missionária (At 15.37-38). Demas ia bem como
cooperador (Cl 4.14). E, no final da vida de Paulo, Demas abandonou o
evangelho e Marcos se tornou útil (2 Tm 4.10-11).
Eu sei que as experiências da vida fazem muitos não acreditarem no
arrependimento dos pecadores e na transformação dos irmãos. Porém, nós
nunca saberemos o que as pessoas serão no futuro, se haverá arrependimento
genuíno ou não; então, opte por acreditar nas pessoas! Você irá se decepcionar
algumas vezes, mas você também será reanimado por ver sua dedicação
alcançar os pecadores e ainda ganhará amigos mais chegados que irmãos de
sangue. Se não acreditarmos nos arrependidos ou na transformação dos
irmãos, por que acreditarão em nós? Assim...

Minha oração é o profundo comentário de João Calvino sobre Filemom:
...Devemos estender a mão a um pecador que procura provar que realmente
está arrependido...que nenhum de nós, pois, ponha em si demasiada confiança
por haver sido fiel durante um ano; senão que, recordando a extensão da
jornada que ainda lhe resta a percorrer, supliquemos a Deus que nos conceda
aquela firmeza de que carecemos. Respondo: Deus, nos ajude a reanimar por
servir e acreditar nas pessoas!


Autor: Pastor Kariston   |   Visualizações: 19 pessoas
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