
O filho pródigo - Lucas 15.11-32
Sinopse da série
No começo de 2023, percebemos como a maneira predileta de Jesus ensinar era pelo uso de parábolas, afinal, quem não gosta de uma boa estória? Nas estórias nossa imaginação voa longe, nos identificamos com a realidade e reflexões são geradas. Mas não conseguimos passar por todas as parábolas, por isso vamos novamente para a série Parábolas, temporada 2.
Nessa série teremos um detalhe especial, trabalharemos somente com o evangelho de Lucas. Nós já iniciamos nele nas reflexões de Natal e Ano novo, vamos trabalhar as parábolas, e fechamos esse rico e detalhista livro na série de Páscoa. Só revisitando o episódio "piloto", a palavra Parábola deriva das raízes gregas: para (“ao lado”) e ballō (“lançar”), literalmente significa “colocar ao lado”, sugerindo uma comparação entre duas coisas que são semelhantes.
As parábolas eram exemplos do cotidiano, porém com significados espirituais profundos por trás dessas estórias. Com isso, é importante ponderamos que as parábolas não se preocupam em questionar sobre uma ordem social da época, mas em passar uma mensagem através de uma ilustração cotidiana, e ao olharmos para os detalhes e interpretarmos esses detalhes, eles precisam estar dentro da “moral da estória”.
A parábola de hoje é: “O filho pródigo" e está em Lucas 15.11-32.
Contextualização do texto
No capítulo 14, Lucas trabalhou o confronto de Jesus com os fariseus, onde é perceptível a arrogância que tomava conta de seus corações (Lucas 14.7). O escritor encerra o capítulo chamando a atenção com a frase: “quem tem ouvidos para ouvir ouça” (Lucas 14.35). Logo em seguida, no capítulo 15, Lucas descreve que os pecadores e publicanos estão vindo para ouvir Jesus (v.1), já os fariseus, se escandalizam com Jesus por vê-lo receber esses perdidos.
Uma mensagem está clara, os de fora de Israel estão mais atentos e sedentos ao evangelho do que os judeus. E pior, esses judeus não aceitam que a misericórdia se estenda para outros. É nesse contexto que Jesus conta as três parábolas. A primeira é sobre a ovelha perdida e o pastor cuidadoso, ele deixa as 99 seguras no aprisco e escala as montanhas atras dessa única ovelha perdida. Depois Jesus conta uma segunda parábola que é sobre uma mulher, que possui somente 10 dracmas = 10 denários = 10 dias de trabalho, mas que ao perder uma, ela se esforça o máximo para achá-la e celebra com alegria quando encontra essa moeda que tem muito valor para ela.
Por último, nesta trilogia onde um cuidador sempre procura o que foi perdido, Jesus conta sobre o filho pródigo e é essa parábola que vamos refletir hoje. Lucas 15.11-32.
1- O filho perdido - v.11-16
Jesus inicia essa parábola contando sobre um filho que pediu sua parte da herança, mesmo com o pai ainda vivo. Parece que seu desejo é se distanciar de sua casa, e é exatamente isso que ele faz. Após pegar sua parte da herança, o jovem vai para um lugar distante, gasta todo o seu recurso vivendo de forma desregrada (v.11-13).
O problema é que aflições alcançam a vida do ser humano e uma fome chegou naquela terra. Então a soma de momentos difíceis, a distância da casa do pai e uma vida desregrada levam aquele jovem a ter que trabalhar com porcos e desejar a comida deles. O porco era considerado pelo judeu um animal imundo, ou seja, essa parábola conta de um jovem que chegou no fundo de uma vida impura (v.14-16).
Infelizmente, muitos hoje se encontram como esse jovem, distantes de Deus Pai e criador. Há aqueles que se encontram distantes descaradamente, não querem saber de Deus, não querem saber da igreja, abandonam a palavra, decidem viver suas vidas conforme a própria vontade, foram viver em outro lugar. Mas há outros que dizem estar perto de Deus, até porque todos os domingos participam de uma igreja, talvez até por muitos anos, mas a alma está distante. São engolidos pela rotina e nem refletem profundamente na palavra de Deus.
O problema é que a distância do Pai te leva a uma vida desregrada. Distantes do pai perdemos o limite. Talvez você diga: “Discordo pastor, eu me controlo bem, foi só uma vez, uma mentirinha, uma noite, uma escorregada, um trago, um pino…”, então, é esse o problema, nós sempre achamos que não estamos tão distantes assim, nós sempre pensamos que será fácil retornar, só que cada vez que você normaliza os seus passos distantes da casa do pai, você fica mais próximo de não voltar mais. O que vem depois de cruzar os limites são as perdas e a imundícia.
Pergunte para alguém que já teve experiencia com drogas, ele sempre acha que está no controle até que ele perde tudo. Cuidado ao achar que você tem controle dessa distância da igreja, da distância da palavra de Deus, cuidado com essa inércia em relação ao temor a Deus, pode ser que você já esteja envolvido pela lama e vivendo uma vida suja, e se não se perdeu, quando chegar a tempestade você vai ter ideia do que foi perdido, irmãos, amigos, casamento, filhos, bens, reputação, dons, confiança, saúde, tempo.
2- O Pai amoroso - v.17-24
Jesus então continua sua parábola, e nessa história eletrizante, o jovem cai em si no pior momento da sua vida. Ele reconhece a sua situação e pensa em pedir perdão pro Pai, se oferecendo como um trabalhador, até porque ele mesmo não se sente digno de ser filho (17-19). Então, antes mesmo que ele chegasse perto da casa, o pai o avista de longe e corre em direção a ele.
Interessante pois, numa cultura onde os pais têm expectativa de seus filhos serem seus cuidadores, esse pai faz o oposto, mesmo abandonado pelo filho, ele corre em direção ao jovem. E mais, o pai reintegra o jovem no lugar de filho, festejando, porque o filho era dado como morto, mas reviveu (v.20-24). Jesus está contando essa parábola que não é uma história fictícia, mas é a realidade da humanidade. Deus criou a humanidade para ser seus filhos, pois somos criados a imagem e semelhança de Deus. Porém, da mesma forma que esse filho pródigo quis seguir a sua vida do seu jeito, nossos antepassados fizeram a mesma coisa, e na sua presunção de ser donos do seu próprio nariz, toda a humanidade se distanciou da casa do pai, começamos viver uma vida desregrada, perdendo os limites, perdendo a identidade de filho, perdendo tudo que temos, até chegar no lamaçal.
Mas Deus se fez homem, na pessoa de seu filho Jesus, para pagar por todos os nossos erros. Ele corre em nossa direção para restaurar quem somos e o que seremos. Jesus é a expressão clara do pai que vai em direção aos seus filhos, ele não fica só olhando pela janela, nem fica esperando nós fazermos alguma coisa, a vida de Jesus é ação e Deus para nos resgatar. Ele nos resgata como filhos e restaura nossa identidade. Por mais sujo que você tenha sido, por mais pedido que você esteja nesse momento, através do arrependimento que Jesus gera em nosso coração, podemos voltar para a casa do Pai.
Por mais que você tenha perdido seus limites, passado a linha que te trouxe perdas irreparáveis, por mais que você se sente comendo restos de porcos, em Cristo, você pode voltar até o Pai, pedir perdão, e ele restaura a sua identidade, restaura que você é e o que você será a partir daqui. É verdade que as feridas que adquirimos pelo caminho levam tempo para curar, mas podemos, pela fé, ter certeza do abraço do Pai para nos amparar.
3- O filho incompreensivo - v.25-32
Então aparece um terceiro personagem, o filho mais velho. Ele está vindo do campo, de um dia pesado de trabalho. Porém, ao saber que a festa é para seu irmão, ele se recusa a entrar, e seu pai tem que vir até ele para conciliar o coração dele (v.25-28). A resposta dele ao pai é afirmar que ele nunca desobedeceu em nada o seu pai (o que acabou de fazer ao não entrar na festa) e nessa obediência, o filho mais velho cobra o pai por não ter dado uma festa para ele, sendo que o rapaz sempre foi fiel ao pai.
O Pai então diz para o filho mais velho não se preocupar, eles sempre estiveram juntos, isso é o mais importante, mas diante do retorno do filho que estava morto e reviveu, o sentimento é de festa (v.29-32) Acolha e celebre quando o perdido é encontrado. Por mais que essa pessoa possa ter errado com você, por mais que ela abandonou a casa do pai algumas vezes, pode ser essa a verdadeira transformação.
Tem gente que vê um pecador que se arrepende, alguém que já pisou na bola inúmeras vezes e já pensa: “que falsidade, alguns meses e volta na mesma vida. Eu não acredito!” Eu sei, e falo por experiencia própria, que muitas vezes a gente cansa de ajudar e perdoar. Mas já vi também pessoas errarem por inúmeras vezes, e em uma determinada chance, o arrependimento verdadeiro aconteceu. Se você não consegue, peça ajuda de Deus, mas acolha e festeje quando o perdido volta para casa do Pai. Não coloque a prova o amor de Deus. Todos nós somos perdoados dia após dia, todos nós tivemos nossa identidade restaurada, então, Deus não precisa provar nada.
Não fique exigindo coisas de Deus por servi-lo, não compare as bençãos que alguém novo na fé recebeu com o seu momento de vida, cada um tem a sua relação com o Pai. Quem é você nessa história? O filho perdido? Deus está te esperando e ele corre até você por meio do sacrifico de Cristo. Você é o filho incompreensível? Deus não precisa te provar nada, ele te ama, está junto com você e só espera que você festeje quando a mesma graça e amor alcança os filhos perdidos.
Minha oração: Que Deus possa nos perdoar por nos distanciarmos da casa dele, quer seja da comunidade de discípulos, quer seja com nossa alma. Que Jesus nos ajude a ver o Pai que nos recebe de volta correndo para nos abraçar e restaurando nossa identidade. Que o Espírito Santo nos guie para sermos aqueles que celebram a misericórdia e o perdão da casa do Pai.