
A parábola da viúva persistente - Lucas 18.1-8
Sinopse da série
No começo de 2023, percebemos como a maneira predileta de Jesus ensinar era pelo uso de parábolas, afinal, quem não gosta de uma boa estória? Nas estórias nossa imaginação voa longe, nos identificamos com a realidade e reflexões são geradas. Mas não conseguimos passar por todas as parábolas, por isso vamos novamente para a série Parábolas, temporada 2.
Nessa série teremos um detalhe especial, trabalharemos somente com o evangelho de Lucas. Nós já iniciamos nele nas reflexões de Natal e Ano novo, vamos trabalhar as parábolas, e fechamos esse rico e detalhista livro na série de Páscoa. Só revisitando o episódio "piloto", a palavra Parábola deriva das raizes gregas: para (“ao lado”) e ballō (“lançar”), literalmente significa “colocar ao lado”, sugerindo uma comparação entre duas coisas que são semelhantes.
As parábolas eram exemplos do cotidiano porém com significados espirituais profundos por trás dessas estórias. Com isso, é importante ponderamos que as parábolas não se preocupam em questionar sobre uma ordem social da época mas em passar uma mensagem através de uma ilustração cotidiana, e ao olharmos pro detalhes e interpretarmos esses detalhes, eles precisam estar dentro da “moral da estória”.
A parábola de hoje é: “a viúva persistente" e está em Lucas 18.1-8.
Contextualização
A estória que envolve a parábola é parte do cotidiano daquelas pessoas. Em Israel, além do Grande Sinédrio que era composto pelos fariseus que julgavam os casos mediante a lei religiosa, Roma também havia deixado magistrados para julgar os crimes nominais. E esses juízes eram vistos como pessoas sem temor a Deus, totalmente depravados, injustos e corruptos.
Já as viúvas passavam muitas dificuldades, pois ao perder o marido que não tivesse bens ou irmãos para casar com ela e sustenta-la, essa mulher passaria necessidade. Porém, quando uma viúva tinha recursos, alguns homens tentavam se beneficiar da fraqueza e do momento, é o que a viúva chama de adversário.
Por isso era comum um viúva procurar os juízes para pedir justiça pela situação que ela foi colocada e era comum os juízes fazerem pouco caso porque a maioria não se importavam com as pessoas mesmo. Os ouvinte conhecem bem essa realidade, muitos ali viam no dia a dia mulheres passando por isso, talvez até tinham em suas famílias, viúvas que sabem o que é precisar de um juíz e não ter a ajuda deles.
Posto isso, podemos encontrar algumas lições nessa parábola…
1- O desanimo e a vingança - v.1-3
Lucas relata que parábola é contada por Jesus para lembrar seus discípulos da necessidade de orar constantemente sem desanimar (v.1). Isso porque diante do tempo que pode levar para a justiça de Deus se manifestar de forma completa, os discípulos poderiam desanimar. Jesus coloca ao lado de uma lição espiritual, uma realidade cotidiana de um juiz que não se importa com as pessoas e de uma viúva que está sendo injustiçada por um adversário. E a primeira lição é que essa viúva não busca vingança, ela não quer acabar com seu adversário, ela procura quem ela devia procurar, e pede uma resolução justa à quem deveria dar (v. 2-3).
Diante das injustiças, das dores, do medo que nos alcança, muitos de nós colocam em oração a Deus. Diante de situações difíceis, de lutas e de decepções com pessoas ou até conosco mesmo, muitos de nós pedem e creem na intervenção de Deus. O problema é que algumas vezes nós não recebemos a resposta, ou pelo menos não recebemos no tempo que gostaríamos.
É em realidades assim, de extrema exaustão, que somos levamos a desanimar, deixando de orar. Alguns chegam a desanimar do próprio Deus, pois, pensa: "se ele não responde, porque vale continuar em seus caminhos? Se ele não responde ou só responde quando ele quer, porque devo orar?" Algo que essa parábola nos leva a questionar é se o que temos colocado em oração a Deus é um pedido de justiça ou um pedido de vingança?
Podem parecer a mesma coisa, mas há diferença entre elas. Na justiça, você pede pelo que você foi ou está sendo lesado. Na vingança você quer lesar o outro. Na justiça, você espera Deus e a justiça que ele fará, na vingança você perde a paciência e faz com suas mãos. Se em sua oração, você pede para que Deus mude seu cônjuge, seu filho, seu familiar, mas você age de forma arrogante com eles para mostrar que você é forte, suas palavras dizem esperar a justiça de Deus mas suas atitudes expressam vingança.
Se você ora pedindo justiça de Deus numa causa trabalhista, mas você difama a empresa e seus colegas de trabalho para mostrar para todos quem eles são, você não confia na justiça de Deus e suas atitudes estão expressando vingança. Na oração você espera a vontade de Deus na vingança você espera que Deus faça as pessoas que erraram com você pagarem. Você pode e deve orar pedindo a justiça de Deus diante daquilo que você tem enfrentado, mas não desista porque as coisas não foram como você desejava ou por não ter a resposta imediata.
Você pode e deve orar pedindo que Deus intervenha nas dificuldades que tem te assolado, mas não se adiante se vingando e agindo pela sua própria vingança.
2- Persista na oração - 4-5
A parábola fala de um juíz que não teme a Deus e nem se importa com as pessoas. Mas mesmo assim, a insistência da viúva o leva a querer responder. A palavra importunar - παρέχω “uma expressão pitoresca para “me dá um tapa no olho”. A ideia é que a viúva estava sendo tão insistente, que esse juíz se sentiria grandemente incomodado. Um juíz, que nem temia a Deus e nem se importava com as pessoas resolve se mexer porque a viúva não abriu brechas contra ela procurando ou fazendo vingança, mas ela fez o que estava a seu alcance, clamar incessantemente esperando a justiça do juiz (v.4-5).
Por que é difícil persistir na oração? Por que até em algo que é sagrado e puro como a oração, nós conseguimos tornar em vingança? Por que não esperamos a justiça de Deus? Isso não é de hoje… No início, Deus criou o ser humano, a sua imagem e semelhança e todos os dias o ser humano conversava com Deus, havia relacionamento e confiança. Mas enganado pela serpente, o ser humano em Adão, se afasta de Deus buscando autonomia. Então o pecado entra na humanidade, e homens e mulheres sem Deus, são homens e mulheres que desistem de falar com Deus, que são vingativos e não conseguem esperar a justiça de Deus. Então Deus enviou seu filho Jesus para vir a este mundo, para resgatar a humanidade, para trazer o coração do ser humano de volta à Deus.
Essa é a maior justiça de Deus, o perdão dos pecados (Romanos 3.23-26). E como discípulos de Jesus, justificados pela graça dele, somos conduzidos pelo seu espírito para persistimos na oração crendo que um dia ele virá e cumprirá toda a justiça, não haverá mais pecado, nem morte, tudo se fará novo. Por isso, persista na oração. Mesmo que nossos pedidos não foram respondidos, mesmo que as circunstâncias tentam nos desanimar, seja persistente na oração.
Ore todos os dias. Coloque diante de Deus seus pedidos. Coloque as causas diante de Deus, seja persistente.
3- O tempo de Deus e a fé na terra - 6-8
A lição de Jesus é que se até um juíz que não teme a Deus e nem se importa com as pessoas, ouviu a viúva pela insistência, imagina se Deus que é justo e ama seus filhos não responderá as orações e fará depressa. Porém "depressa" para nós que temos a visão somente desse tempo presente é uma coisa, mas para Deus que transcende o tempo e que seus planos envolve toda a história, o depressa é outra coisa (v.6-8a). Por último, Jesus deixa uma pergunta no texto que ecoa por toda a história: "Quando o filho do homem (Jesus) vier (novamente), encontrará fé na terra? Ele encontrará pessoas orando, esperado a justiça de Deus nas lutas da vida presente e na volta de Jesus? (v.8b) O tempo de Deus é muito diferente do nosso.
Ele sabe nossa realidade, mas seus planos não estão reféns do nosso tempo mas do tempo dele. Por isso, pode ser que a pressa em fazer justiça neste mundo caído não encaixe no nosso tempo. Pode ser que a pressa em vermos alguma justiça em nossa vida não seja no tempo que esperamos e talvez nem seja no tempo que temos em vida. Veja a promessa de Abraão. Ele seria pai de multidões e foi. Mas ele não viu a nação de Israel formada. Ele viu seu filho, no máximo seu neto. A instrução de Jesus para os escolhidos de Deus que esperam que ele intervenha em suas dificuldades, que precisam da ajuda de Deus contra seus adversários, é que esses escolhidos clamem dia e noite. Por outro lado, a pergunta de Jesus precisa ser respondida, se ele voltar ele achará fé na terra? Fé em nós? Ter fé neste contexto é persistir na oração e esperar em Deus.
Fé não é você dizer que crê em Deus mas quando as coisas não acontecem, você desanima de orar. Fé é orar à Deus crendo que ele virá com sua justiça no momento certo. Fé não é orar dizendo crer na justiça de Deus mas na primeira oportunidade você se vinga de todo mundo que você não gosta ou que pisou na bola com você. Fé é orar à Deus crendo que ele virá com justiça em sua vida e que a justiça dele sempre será melhor que a sua vingança. Fé não é orar a Deus pensando só nas coisas que precisamos nesse mundo. Fé é orar à Deus crendo que um dia ele virá com justiça para resolver todos os problemas e que um dia viveremos a vida da nova criação.
Minha oração é que Deus nos perdoe por muitas vezes desistir de orar e sermos guiados pela vingança querendo fazer justiça do nosso jeito. Que a vida de Jesus seja a nossa força para persistir na oração. Que o Espírito Santo nos ajude a esperar em Deus de acordo com o tempo dele e não esquecendo que a maior justiça dele é o dia em que ele retornará para restaurar completamente a criação.