
Quem matou Jesus, Deus? - Lucas 23.33-43
Sinopse da série
Se eu perguntasse para você: O que é a páscoa? O que você diria? Feriado prolongado? Ovos de chocolate? Só é possível entender no panorama da aliança. Quando Israel estava escravizado no Egito, descrito no livro de Êxodo, Deus se moveu para libertar o seu povo e a páscoa é o ponto alto (Êxodo 12.17).
Na primeira celebração o povo de Deus é direcionado à passar sangue de cordeiro nos umbrais das portas das casas para que eles fossem protegidos da praga que viria (Êxodo 12.23). Para os israelitas, daí em diante, aquela cerimônia haveria de lembrar-lhes que Deus os libertara da escravidão e quando os filhos perguntassem aos pais: “Que rito é esse?”, a resposta faria referência à libertação realizada por Deus (Êxodo 13.14-16).
As festas celebradas não possuíam apenas um sentido histórico, mas também apontavam para o futuro. Daí os sentidos figurados nos elementos utilizados. O cordeiro puro, que era sacrificado, apontava para o Cordeiro de Deus que viria (João 1.29). O evangelista Lucas nos conta, a partir do capitulo 23, sobre Jesus, numa trama iniciada exatamente na época da festa de páscoa (v.1).
É em Lucas 23.33.43 que vamos refletir em lições importante que nos mostra como esse trama impacta nossas vidas hoje.
Contextualização do texto
Quando lemos o livro de Lucas, principalmente na perspectiva de nossa última série: "Parábolas"; percebemos que a medida que o fim do livro se aproxima, a tensão entre os religiosos e Jesus cresce. O pico dessa tensão é exposta quando a delegação do sinédrio questionam Jesus sobre sua autoridade (cap.20.19).
Depois disso, a trama para matar Jesus é iniciada. Jesus foi assassinado, um homem inocente foi crucificado de maneira brutal. Mas quem foi o responsável pela morte de Jesus? Quem é o culpado? No último dia que antecedeu a morte de Jesus, seu caminho cruzou com diversas pessoas que interferiram em sua sentença e condenação. E isso importa? Sim, pois saber quem é o culpado pode nos ensinar lições preciosas, nos levando a entender o porquê a história de Jesus transcendeu o tempo e espaço e ganha novos seguidores ainda hoje.
1- O perdão e a missão - v.33-37
Jesus é conduzido para o Calvário, o lugar da crucificação. Há dois malfeitores com ele que detalharemos mais à frente. Mas o que chama atenção é que mesmo no pior momento que alguém pode viver, Jesus pede em sua oração para que Deus perdoe a todos, judeus e romanos, porque eles estão fazendo o que não sabem (v.33-34). E o que eles estão fazendo? Bom, a multidão só estava ali observando sem se envolver com nada de Jesus, podia ser por medo ou por abandono, fato é que não se envolviam.
Os líderes religiosos e os soldados zombam da cristandade e da realeza de Jesus, do seu senhorio, ironicamente dizem que ele salvou a muitos e não consegue salvar a si mesmo (35-37). Pense nisso: Perdão não é um sentimento mas é uma decisão diante do amor e da missão de Deus. Num primeiro momento, nós precisamos compreender que somos perdoados por Jesus independente das coisas mais terríveis que já fizemos. “Pastor, você não me conhece, não há perdão para o que eu fiz”.
Jesus é o intercessor que pede pelo perdão de Deus para você. Diante disso, um segundo aspecto é praticarmos o perdão, não só para quem pede ou reconhece o erro, mas até mesmo em meio a ofensa deveríamos decidir perdoar. “Como assim pastor, comigo é bateu, levou". Se você pensa assim, você não entendeu nada do evangelho e do perdão de Jesus. Eu não estou dizendo que não haverá consequências ou que os relacionamentos serão o mesmo depois de muitos desgastes, mas diante do amor de Deus por nós e da missão de alcançar a humanidade, nossa decisão deveria ser sempre pelo perdão.
Mas outro problema é a atitude diante da missão de Jesus. Muitos estão como a multidão, só observando. Estão temerosos ou atarefados demais para participarem da missão. Algo que me chamou a atenção nesses dias é que de 280 pessoas ativas em nosso app (tirando crianças) temos 90 voluntários. Apesar do excelente engajamento de nosso voluntariado preocupa saber que quase 70% de nossos membros/frequentadores não se voluntariam (fora os que nem se cadastram).
Claro, existe particularidades, mas se enquanto a missão acontece você só observa, algo está errado. Outros estão como os religiosos e os soldados, desprezando o senhorio de Jesus. Estão sendo guiados pelos seus prazeres, zombando do senhorio de Jesus. Olham para as pessoas como objetos sexuais, guardam uma lista de pessoas para se vingar, criam perfis-fake para a vida dupla.
Se enquanto a missão acontece, você despreza o senhorio de Jesus, algo está errado.
2- O Rei dos malfeitores - v.38-43
Lucas então relata um detalhe muito intrigante, uma placa é colocada na cruz, acima da cabeça de Jesus, declarando: “Este é o Rei dos Judeus” (v.38). Então, Lucas vai detalhar a cena dos malfeitores que ele introduziu no versículo 33. Nessa conversa, um dos criminosos age da mesma forma que os religiosos e os soldados, ele despreza o senhorio de Cristo, apesar de estar na mesma situação (v.39).
O outro criminoso, diferentemente, repreende seu companheiro de cruz dizendo que eles merecem estarem ali pelos atos criminosos que cometeram, mas Jesus não, ele é inocente. Apesar de estar ali também agonizando na cruz, este segundo criminoso enche seu coração de fé e reconhece o senhorio de Jesus (v.40-42) e Jesus traz o perdão de Deus e salvação (v.43).
Que reino Jesus é Rei? Quando Deus criou o ser humano a sua imagem, Deus estava criando um reino perfeito, tudo estava em ordem. Mas o ser humano tentou usurpar o direito de rei do Criador, e na falta de confiança, o ser humano decide reinar sobre sua vida. O resultado foi o caos, o mundo entrou em desordem, um querendo reinar sobre o outro e é nesse mundo de criminosos que nos encontramos ainda. Mas Deus tinha um plano maior para resgatar a humanidade, esse plano era se encarnar, na pessoa de Jesus e viver em meio aos caos.
E enquanto muitos reis querem ser deuses, Jesus é o rei que faz da cruz o seu trono. Ao lado desses malfeitores que representam a humanidade, Jesus é crucificado como um criminoso, pagando com sua vida pelos nossos pecados. Mas ao terceiro dia ele ressuscitou, venceu a morte e trouxe salvação a todo que nele crê, prometendo que voltará e restaurará a criação. Assim, nós somos esses malfeitores da cruz, pecamos e erramos contra Deus, instalamos o caos, mas qual desses malfeitores nós nos identificamos hoje? Talvez você tem sido como o malfeitor que despreza o senhorio de Cristo mesmo quando percebe que está tudo errado.
Você sabe que ser guiado pelo seu jeito estourado tem causado rupturas em seus relacionamentos, mas você continua querendo ser o senhor da suas relações. Você sabe que suas decisões financeiras estão te enrolando cada vez mais, porém você continua avarento querendo ser o senhor de suas finanças. Você sabe que ficar o tempo todo no seu smartphone, tem consumido o seu tempo sem deixar tempo para coisas importantes, mas você quer ser o senhor do seu entretenimento. Agora, podemos escolher ser como o outro criminoso, que mesmo com todas suas falhas, volta os olhos para cruz, reconhece quem é e clama para que Jesus seja o Senhor da vida.
Pode ter certeza de que Jesus te garantirá um futuro de paz no Reino dele que começa aqui.
3- A missão, caos e descanso - v.44-56
Lucas diz que o véu se rasgou, o caminho para Deus foi aberto. E um soldado 1romano, que estava acompanhando todo o movimento da cruz, ao ouvir as palavras de Jesus, percebe o significado daquele ato, e ele não se contém, testemunhando a missão de Jesus bem diferente da multidão observadora. José de Arimatéia, que era do concílio religioso, também da continuidade a missão de Jesus pela esperança no Reino (v.44-54).
Por fim, Lucas fala das mulheres, que também participam da missão, mas param para cumprir o descanso, pois a missão não anula o mandamento (v.55-56). Precisamos testemunhar mais sobre o evangelho. Contar sobre o Cristo fez e está fazendo em nós, dizer sobre o ser humano falho que fomos e muitas vezes somos, mas também dizer que a graça de Jesus nos traz perdão e nos abre um novo caminho. Mas as palavras serão válidas quando testemunharmos também com nossas atitudes.
Quando nossa preocupação é fazer o que pudermos para não escandalizar, mesmo que a gente tenha prejuízo. A forma que nos referimos ao nosso cônjuge, como criamos os nossos filhos, como respeitamos os nossos pais, tudo deve ser um testemunho do evangelho. A nossa responsabilidade como cidadão, pagando nossas contas em dia, tratando bem as pessoas no trânsito, sendo compassivo com nossos clientes ou funcionários, tudo na nossa vida precisa testemunhar o evangelho se realmente esse evangelho nos alcançou.
Mas um outro ponto é essencial, você não pode usurpar o descanso. Por mais que você esteja num momento difícil da sua vida como as mulheres desse texto estavam, o tempo de descanso é mandamento. “Ah pastor, preciso pagar as contas, Deus me deu uma oportunidade”, será? Você precisa ser sincero com seu coração e ver se o que você chama de momento de vida, de dificuldade ou até mesmo de missão, na verdade é o seu coração que não confia na provisão de Deus e confia na sua força. E outra coisa, descanso não é só entretenimento, descanso é a expressão da sua relação com Deus, um dia sem a correria ou interrupções da rotina, dia de se reunir como igreja.
Se você se enrolou na vida, faça planos e metas, mas tenha seu tempo de descanso em Deus.
Minha oração: Que Deus nos ajude a compreender o seu perdão para perdoarmos focando sempre na missão. Que Jesus seja o rei que nos leva para viver seu reino. Que o Espírito Santo nos dê força para testemunhar seu amor sem usurpar o relacionamento com ele.
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(1) E o véu do templo, ou véu de cobertura – tinha cerca de 18 metros de altura e 10 cm de espessura – 1 cobria o Santo dos santos, ou Lugar Santíssimo, onde apenas o sumo sacerdote podia entrar, uma vez ao ano. Era nesse lugar que se manifestava a shekinah (presença de Deus) e o povo não podia entrar lá, nem se relacionar diretamente com Deus. Hebreus 9.1-10 relata bem o que era e como essa realidade é alterada em Jesus, onde o véu se rasga e o caminho para Deus é aberto.