
A mulher e o dragão - Apocalipse 12
Sinopse da série
De tempos em tempos a temática do fim do mundo sempre vem à tona em nossa cultura. Desequilíbrio climático, doenças pandêmicas, conflitos entre as nações, é só nos depararmos com catástrofes naturais e/ou tragédias na humanidade que nossas mentes são alcançadas por uma pergunta: Será que o fim pode estar próximo?
É em momentos assim que algumas pessoas se aproximam do livro do Apocalipse, com curiosidade e medo, buscando nos escritos de João um mapa profético para investigar fatos históricos acerca do fim. O problema é que o livro de Apocalipse é cheio de figuras e símbolos que parecem não ter a ver com a nossa realidade.
O escritor N.T. Wright diz: Assim como nada que fazemos no presente é meramente relevante para o presente… também nada na visão do futuro é meramente futuro. Compreender que as descrições gloriosas de João falam de um futuro mas também do seu presente, torna Apocalipse um livro essencial na vida dos discípulos de Jesus, pois nele encontramos fortalecimento para o presente e esperança para o futuro.
Contextualização do livro
Precisamos considerar três itens essenciais para desmitificarmos uma interpretação unicamente futurista, amedrontadora e até equivocada do Apocalipse:
· Apocalipse tem um endereço certo. O propósito principal do livro é dar esperança às igrejas da época que sofriam perseguições e, de forma profética, alcançar os crentes de qualquer tempo futuro.
· Símbolos não podem ser confundidos com realidade. O apóstolo João está preso na ilha de Patmos e tudo que entra ou sai é verificado pelos soldados romanos, portanto, o uso de símbolos permite que a carta chegue aos destinatários.
· A cosmovisão amilenista. Jesus deixa claro que tudo o que ele disse sobre o fim já iniciaria com alguns que o ouviam (Mt 24.34). O Apocalipse já se iniciou e os crentes esperam a segunda vinda de Jesus, onde toda a criação será restaurada.
1- No presente (v.1-6)
(v.1-4) Para mim, João está fazendo um paralelo entre 3 momentos da história, Eva (humanidade) Israel e a igreja, que no fim, é uma mesma história, o povo de Deus. No presente Satanás ataca a igreja, tentando devorar os frutos que apontam pra Cristo.
Por exemplo, Satanás ataca na crença da liberdade. Pessoas pensam que seguir a Deus é pesado, difícil, então, decidem viver “livres", seguindo o que a cultura diz que é liberdade e não sob a orientação divina. Satanás ataca na religiosidade, fazendo com que as formas, os símbolos, as aparências sejam mais importantes que a misericórdia. Satanás ataca semeando divisão; pessoas criam pressupostos sobre as outras, difamam, odeiam, não conseguem caminhar juntos e se perdem da missão.
(v.5-6) Na visão de João, a igreja é conduzida a caminhar e viver no deserto.
Nossa jornada como povo de Deus é em meio ao deserto. Talvez seu deserto hoje seja uma doença grave, talvez sejam as relações conturbadas, talvez seja uma crise financeira, crise psicológica, ou mesmo a perseguição por ser cristão. Fato é que a jornada do povo de Deus neste mundo presente é caminhar em meio à desertos.
2- No passado (v.7-12)
(v.7-9) - Esse texto simboliza também o passado. O anjo Miguel e seu exército lutam contra o dragão e seus anjos; eles perdem, são expulsos do céu. Esse dragão é Satanás, a antiga serpente. Ele engana o mundo todo. Do que João está falando?
Deus cria Adão e Eva à sua imagem e semelhança (Eva, no hebraico: doador da vida, pois ela seria mãe da humanidade). Satanás, em forma de serpente, engana toda a humanidade, dizendo que a independência de Deus não os mataria. O ser humano escolhe pela autonomia; o caos é instalado. Da crise do pecado nasce a inimizade entre a mulher, a criança e a serpente, e a criança esmagará a serpente (Gênesis 3.14-15). Deus então chama Abraão e sua descendência, Israel, o povo de Deus, também representado por essa mulher, para gerar a redenção para a humanidade.
(v.10-12) - Então, João nos apresenta o Cristo que traz salvação.
Deus se faz carne, habitou entre os seres humanos e, sem pecado algum, ele tem um propósito: entregar sua vida para que os pecadores sejam salvos e se voltem a Deus. Só em Jesus é que vencemos. A igreja é fortalecida pelo sangue de Cristo que nos protege para não sermos destruídos pelos ataques malignos e para que possamos suportar a jornada em meio ao deserto.
3- No futuro (v.13-18)
(v.13-14) - A mulher recebe asas, um paralelo com Êxodo 19.4. Asas no contexto canônico tem um sentido de suporte e sustento. O povo de Deus não pode ser destruído pelo diabo, mas a sua jornada é no deserto.
Essa é uma palavra de aviso, nossa jornada nessa vida será de deserto. E, de verdade, as coisas têm de piorar. O governo se tornará cada vez mais injusto e corrupto; as relações se tornarão cada vez mais liquidas; as pessoas terão menos empatia uma com as outras. Mas o consolo é saber que mesmo em meio ao deserto, o diabo não pode nos destruir. O povo de Deus pode ter a certeza que Deus os protege para que permaneçam na fé e vençam no fim de todas as coisas; Ele nos dá suporte e nos sustenta.
(v.15-18) - Mas quem são os descendentes da mulher? Aqueles que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus.
Como decidimos viver? Como Eva, que dá ouvidos a satanás quando ele nos diz que a liberdade, felicidade, a vida boa é fazer o que você quer e não o que Deus quer? Ou como Israel, que acredita que Deus está nos símbolos, nos mandamentos, na aparência moral, mas o coração e as atitudes estavam distante da prática?
Que vivamos como o povo de Deus em missão, que observa e guarda os mandamentos de Deus e que testemunham a vida de Jesus. Que nosso caminho seja em meio ao deserto mas que em nossas mentes estejam os mandamentos de Deus e sua palavra. Que em nossas atitudes a vida de Jesus possa ser projetada.
Minha oração é que Deus nos perdoe por vivermos na libertinagem, na religiosidade e na divisão. Que em Jesus possamos encontrar salvação e nossa vitória neste mundo. E que o Espírito Santo nos guie para testemunharmos a vida da cruz.