Categoria: Artigos
Data: 07/07/2024



O Deus Compassivo e o Mensageiro Teimoso

Sinopse

Diante de um mundo cada vez mais cruel, nossa cultura clama: "mais amor, por favor". O que não ouvimos tanto, é sobre ter misericórdia de quem não merece. Aliás, sendo mais diretos, o que mais nos convencemos é que temos direito de odiar e até sermos cruéis com quem tenha nos traído, nos prejudicados ou até mesmo alguém com convicções políticas diferentes das nossas.

Mas essa realidade não é só do nosso tempo. No livro de Jonas encontramos um profeta com a confrontadora missão anunciar salvação para uma cidade opressora de seu próprio povo. Jonas, porém, só quer que Nínive seja alcançada pelo juízo e que paguem pelo mal que causaram, sofrendo cruelmente.

No fim, mais que uma cidade violenta e opressora ou um profeta teimoso e magoado, o livro de Jonas nos apresenta Deus que, independentemente do mal causado, estende a mão aos perdidos, confronta o coração dos seus escolhidos e nos leva a conhecer e experimentar "O Deus compassivo”

Contextualização do livro

Jonas ganhou renome como profeta durante o reinado de Jeroboão II. Seu livro tem sido alvo de discussões prolongadas por conta de suas características únicas em comparação com os outros profetas.

Enquanto os outros livros proféticos adotam um estilo mais direto e poético ao repreender e exortar o povo de Israel, o livro de Jonas se destaca por contar uma narrativa que se assemelha a uma história, incluindo elementos como um profeta que tenta fugir de Deus, uma tempestade no mar, um grande peixe que o engole e sua bem-sucedida pregação em Nínive.

A essência do livro reside em sua mensagem intemporal sobre arrependimento e a misericórdia divina. Jonas nos recorda que, não importa quão pecador alguém seja, e nem tão longe tentemos escapar da missão de Deus, o Deus compassivo está sempre redigindo a história e expressando sua compaixão a humanidade.

I. A Teimosia de Jonas (v.12-13)

Aqui vemos Jonas reconhecendo que ele é a causa da tempestade que ameaça a vida dos marinheiros. Mas, note que ele não toma a iniciativa, Jonas não se joga, ele pede que outros o façam. Jonas prefere morrer a se arrepender, ele não tem medo da morte, ele tem medo de Deus salvar seus inimigos da morte.

Agora o interessante é que os marinheiros, apesar de serem ímpios, mostram uma atitude moral superior, pois humanamente falando tentam fazer o que é certo (Jn 1:13). O texto hebraico dá a entender que os marinheiros deram tudo de si, remaram o máximo que puderam para devolver Jonas à segurança da terra firme. Eles entenderam que sua segurança pessoal dependia da remoção de Jonas, mas fizeram de tudo para poupar sua vida.

O. Palmer Robertson comenta:

Ele, o fiel, fecha seu coração contra a grande metrópole de Nínive. Apesar de seu povo ter experimentado a graça de Deus durante gerações, ele fecha seu coração contra outras pessoas. Mas, num contraste dramático, esses marinheiros rudes fazem de tudo para poupar a vida de Jonas, mesmo após ele ter causado a perda de toda a sua carga e agora pode causar a perda de suas vidas

Aparentemente, Deus não cooperou com esses marinheiros misericordiosos. Por mais que se esforçassem e remassem, eles não conseguiram vencer as ondas cada vez mais altas. Deus queria que a correção de Jonas continuasse, por isso nada que os marinheiros fizessem poderia salvar a vida dele.

Às vezes estamos vendo que tudo está errado, que pessoas a nossa volta estão sofrendo, mas teimamos nas mesmas coisas e não fazemos nada para mudar. Jonas reconhece o problema, mas a sua falta de iniciativa revela a sua teimosia e a falta de arrependimento genuíno. Seu comportamento é igual a típico funcionário que sabe que chegar atrasado ao trabalho e não cumprir prazos afeta a produtividade da equipe e o desempenho da empresa. Mas, apesar de entender isso, o teimoso continua chegando atrasado e perdendo prazos, frequentemente culpando fatores externos em vez de assumir a responsabilidade;

Outro ponto a destacar é o perigo da falsa piedade. Jonas não está pensando em salvar os marinheiros, mas sim continuar fugindo de Deus. Sua atitude se assemelha ao indivíduo que frequenta serviços religiosos regularmente e faz discursos sobre moralidade, mas não aplica esses ensinamentos em sua vida cotidiana.

II. O Pedido de Misericórdia e a Salvação (v.14-15)

Os marinheiros, em um momento de desespero, clamaram ao Senhor pedindo misericórdia. O testemunho confuso de Jonas, mesmo enquanto fugia de Deus, serviu para revelar aos marinheiros a existência do Deus Eterno. Eles reconheceram a soberania de Deus, pediram para não serem culpados pela morte de Jonas e, finalmente, fizeram o que era necessário: lançaram Jonas ao mar. Imediatamente, a tempestade cessou, demonstrando que Deus ouviu seu clamor e interveio.

John Flavel comenta:

"A alma do mendigo mais pobre que clama à porta por um pedaço de pão é, em sua própria natureza, de igual dignidade e valor que a alma do mais glorioso monarca que está sentado no trono."

Aqui vemos a graça de Deus em ação. Mesmo diante da teimosia e desobediência de Jonas, Deus estendeu Sua misericórdia.

No princípio, não havia teimosia no coração do homem, que vivia em harmonia com o Criador. No entanto, o ser humano se afastou de Deus e seu coração foi tomado por teimosia e pecado, causando tristeza, destruição e tempestades em sua vida. Desde então, temos visto ao longo da história a influência do mal nas pessoas, e como o sábio diz em Provérbios 29:1: "Aquele que é repreendido muitas vezes e endurece a cerviz será quebrantado de repente, sem que haja cura." (NTLH)

A boa nova para nós é que, diante desse grave problema, Deus enviou Seu Filho Jesus. Ele viveu entre nós, carregou nossas dores na cruz, nos concedeu perdão e ressuscitou. Assim como Jonas, nossa teimosia é a causa das tempestades em nossas vidas, mas a boa notícia é que, diante desse grave problema, Deus enviou Seu Filho Jesus. Ele viveu entre nós, carregou nossas dores na cruz, nos concedeu perdão e ressuscitou; e em Jesus encontramos aquele que pode acalmar o caos que existe em nosso coração. Ele pode acalmar a tempestade, assim como fez no barco com seus discípulos em Marcos 4:41.

Corrie Ten Boon, após passar privações no campo de concentração nazista, disse que não há poço tão profundo que a misericórdia de Deus não seja mais profunda ainda. Não há abismo tão grande onde a graça de Deus não nos alcances. Quando chegamos ao fim da nossa linha, ainda lá a mão de Deus se estende para nos resgatar. Quando chegamos ao fim dos nossos recursos, os celeiros de Deus ainda continuam abertos para nós. A necessidade extrema do homem é apenas mais uma oportunidade para Deus agir.

III. O Reconhecimento e a Adoração (v.16-17)

Após a tempestade ser acalmada, os marinheiros, que inicialmente não conheciam a Deus, passaram a temê-Lo, adorá-Lo e fazer votos a Ele. Enquanto Jonas permanecia teimoso, os marinheiros, mesmo sem um conhecimento prévio de Deus, responderam com reverência e adoração. Quando a tempestade começou, os marinheiros invocaram os seus deuses (Jonas 1.5), mas quando a tempestade atingiu seu auge, eles invocaram o nome do Senhor (Jonas 1.14). Isso representa uma transformação significativa na vida deles: no início, temeram a tempestade, mas agora temem o Senhor da tempestade.

Jonas, sem saber ou mesmo sem querer, acabou sendo um instrumento de Deus na vida desses marinheiros. Isso nos mostra que nossas motivações não podem frustrar os planos de Deus. Ele age através de nós, sem nós e apesar de nós.

Irmãos, nossa missão é viver uma vida de sinceridade, respeito e piedade diante de Deus e das pessoas. É notável que Jonas foi lançado ao mar furioso sem pronunciar sequer uma palavra de arrependimento. Em um mundo onde muitas vezes prevalecem as aparências e superficialidades, nossa missão é viver com sinceridade. Devemos ser transparentes, por mais difícil que seja, em nossas relações pessoais e profissionais, evitando hipocrisia e falsidade. Temos a missão de reconhecer nossos erros em vez de buscar justificativas ou culpar os outros.

A reflexão sobre a fuga de Jonas nos provoca e nos convida a examinar nossas próprias vidas e atitudes. Na tentativa de fugir de Deus e da sua missão, Jonas acaba sendo um instrumento de salvação para muitos. Aqui fica uma lição tremenda: o mundo só tem o verdadeiro testemunho da salvação quando a Igreja o dá com pureza e verdade, ou quando confessa sua fuga e sua teimosia em relação à vontade de Deus. Quando o povo de Deus tem coragem de confessar que a culpa é sua, o mundo crê.

Portanto, é hora de termos coragem para confessar que parte da culpa pela tragédia do país é nossa. Parte da responsabilidade pela tragédia no Brasil é da Igreja. Uma Igreja em flagrante desobediência à sua missão. Uma Igreja que ora menos do que muitos pagãos da sociedade brasileira. Uma Igreja menos sensível e bondosa diante do drama humano do que alguns idólatras da nação. Enfim, muitas vezes temos sido mais parte do problema do que da solução.

Minha oração é que o Senhor nos conceda perdão por nossa inércia e por não admitirmos nossos erros. Que Ele nos ajude a desenvolver um coração compassivo e pronto para perdoar, e que sejamos instrumentos da Sua Graça e testemunhas da Sua salvação, agindo sempre com sinceridade e piedade em todas nossas relações.










Autor: Fabiano Soares   |   Visualizações: 145 pessoas
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