
O Deus Compassivo e o Mensageiro Irresponsável
Sinopse
Diante de um mundo cada vez mais cruel, nossa cultura clama: "mais amor, por favor". O que não ouvimos tanto, é sobre ter misericórdia de quem não merece. Aliás, sendo mais diretos, o que mais nos convencemos é que temos direito de odiar e até sermos cruéis com quem tenha nos traído, nos prejudicados ou até mesmo alguém com convicções políticas diferentes das nossas.
Mas essa realidade não é só do nosso tempo. No livro de Jonas encontramos um profeta com a confrontadora missão anunciar salvação para uma cidade opressora de seu próprio povo. Jonas, porém, só quer que Nínive seja alcançada pelo juízo e que paguem pelo mal que causaram, sofrendo cruelmente.
No fim, mais que uma cidade violenta e opressora ou um profeta teimoso e magoado, o livro de Jonas nos apresenta Deus que, independentemente do mal causado, estende a mão aos perdidos, confronta o coração dos seus escolhidos e nos leva a conhecer e experimentar "O Deus compassivo”
Contextualização do livro
Jonas ganhou renome como profeta durante o reinado de Jeroboão II. Seu livro tem sido alvo de discussões prolongadas por conta de suas características únicas em comparação com os outros profetas.
Enquanto os outros livros proféticos adotam um estilo mais direto e poético ao repreender e exortar o povo de Israel, o livro de Jonas se destaca por contar uma narrativa que se assemelha a uma história, incluindo elementos como um profeta que tenta fugir de Deus, uma tempestade no mar, um grande peixe que o engole e sua bem-sucedida pregação em Nínive.
A essência do livro reside em sua mensagem intemporal sobre arrependimento e a misericórdia divina. Jonas nos recorda que, não importa quão pecador alguém seja, e nem tão longe tentemos escapar da missão de Deus, o Deus compassivo está sempre redigindo a história e expressando sua compaixão a humanidade.
I. Irresponsabilidade: A Fuga da Missão Divina (v.1-3)
Jonas era uma profeta em conflito interno. Fugiu da missão de Deus, agindo como uma pessoa que evita Deus para resolver seus próprios problemas. Ele valorizava mais as coisas do que as pessoas, revelando que ele tinha pelo menos dois grandes ídolos em sua vida: sua ideologia patriótica e sua reputação.
Jonas tentou escapar da presença de Deus não por temor à Sua ira, mas por medo da Sua compaixão. Ele acreditava que entendia os problemas de Deus melhor do que o próprio Deus e, por isso, devido aos seus preconceitos teológicos, se recusou a ser um missionário além das fronteiras de Israel.
Jonas fugiu porque conhecia bem a cidade de Nínive. Nínive, a capital da Assíria, era uma antiga cidade, a maior daquela época e considerada a mais perversa do mundo nos dias de Jonas, comparável a Sodoma e Gomorra em sua corrupção. Jerónimo Pott afirma que no tempo de Jonas, o inimigo mais temido era a Assíria.
E o profeta amava tanto a Israel que odiava todos que podiam ser uma ameaça ao seu povo. Seu patriotismo se tornou tão predominante em sua vida que o levou a desobedecer a uma ordem direta de Deus.
Este comportamento é descrito como um desvio descendente. A palavra hebraica "ירד" (yarad) é uma raiz primitiva que significa "descer, ir para baixo, declinar, marchar abaixo".
Nos dias de hoje, frequentemente nos deparamos com decisões que nos colocam em um dilema entre seguir nossos próprios desejos ou obedecer à vontade de Deus. Há uma pergunta universal que habita o coração humano: Será que Deus realmente sabe o que é melhor para nós, ou somos nós que sabemos?
No versículo 3, observamos sete verbos que descrevem as ações de Jonas ao se afastar de Deus, o que destaca a irresponsabilidade de alguém que está fugindo da palavra de Deus.
Por isso, ao enfrentar decisões no ambiente de trabalho, como aceitar uma promoção que exigirá mais tempo longe da família ou participar de práticas comerciais questionáveis para obter lucro, muitas vezes temos dificuldade em buscar a orientação de Deus em oração, pois tememos Sua resposta. Da mesma forma, nos relacionamentos pessoais, pode ser tentador seguir nossos desejos imediatos, mantendo hábitos espiritualmente prejudiciais. Nessas situações, nosso coração tende a se afastar dos ensinamentos bíblicos, pois sabemos que isso frequentemente implica sacrificar nossos desejos.
II. Confronto: A Intervenção Soberana de Deus (v.4-6)
Deus trouxe uma tempestade, movendo céu e terra para que Sua vontade prevalecesse tanto na vida de Jonas quanto no Seu propósito de evangelizar Nínive. Jonas tentou fugir de Deus, mas Ele não permitiu. O Senhor "lançou sobre o mar um grande vento" (v.4). O verbo "lançar" frequentemente descreve a ação de arremessar uma arma, como uma lança.
Os marinheiros, acostumados com as tempestades do Mediterrâneo, perceberam que aquela não era uma tormenta comum. Por isso, começaram a invocar seus deuses e a lançar a carga do navio ao mar para aliviar o peso e evitar o naufrágio.
E onde estava o profeta? Dormia o sono da indiferença. Ele estava profundamente esgotado e exaurido, consumido por intensos sentimentos de raiva, culpa, ansiedade e tristeza. O pecado de um homem afeta a todos.
Jonas fugiu como Adão e Eva que tentaram se esconder de Deus (Gn. 3:8). O Reverendo Hernandes Dias Lopes diz: “O pecado induz o homem a afastar-se de Deus. Mas longe de Deus só existem trevas.”
Mas nem sempre foi assim: No princípio, Deus criou o ser humano à Sua imagem e semelhança. No entanto, o ser humano se afastou de Deus, o Espírito de Deus se retirou do homem, e todos esses sentimentos conflitantes entraram na humanidade.
Desde então, temos visto ao longo da história o espírito maligno atuando nas pessoas, levando-as a ações cegas e inconsequentes por meio desses sentimentos que prejudicam nosso temor e nossa intimidade com Deus. Jonas, como profeta, não demonstra interesse pela oração. Ao longo do livro, ele ora apenas duas vezes e, em ambas as ocasiões, suas orações estavam centradas em suas próprias necessidades, sem buscar o deleite em Deus nem interceder pelos outros.
A boa nova para nós é que Deus enviou Seu Filho Jesus. Ele viveu entre nós, enfrentou a ira dos religiosos e a nossa própria ira na cruz, nos concedeu perdão e ressuscitou; Dessa forma, em Jesus, entendemos que Deus intervém nos erros de nossa vida para nos trazer de volta a Ele.
III. Arrependimento: Assumindo Responsabilidade e Restauração (v.7-11)
Os marinheiros procuravam um culpado, mas toda a sua experiência náutica não lhes fornecia uma solução para aquele problema. Recorrem então a lançar sorte para descobrir quem é o responsável por tudo isso. Enquanto isso, Jonas permanece calado, sem assumir a responsabilidade pelo seu desvio e pelas consequências de sua fuga.
Em Lucas 12:2ª está escrito: "Não há nada escondido que não venha a ser descoberto..."
A irresponsabilidade e a desobediência de Jonas são expostas perante todos. Os homens descobriram o que Deus estava fazendo e ficaram com medo.
Não assumir a responsabilidade de nossas ações pode nos transformar em provocadores de tempestades, que além de nos prejudicar, vão prejudicar a vida de outras pessoas. Recentemente, entendi a importância de cuidar mais da minha saúde, não ignorar mais sintomas importantes ou negligenciar consultas médicas regulares. Percebi isso ao observar que a falta de cuidado pode levar ao agravamento de doenças que poderiam ter sido tratadas precocemente. Como resultado, não só a saúde da pessoa fica comprometida, mas também a vida de seus familiares e amigos, que podem precisar cuidar dela ou enfrentar o sofrimento de vê-la doente.
Não sejam precipitados em querer resolver os problemas à sua maneira. Talvez você seja uma pessoa que não gerencia suas finanças de maneira responsável, gastando mais do que ganha e acumulando dívidas, o que gera crises na sua família.
Pare, repense suas atitudes e, acima de tudo, assuma a responsabilidade.
Convido você a perceber que suas experiências não são coincidências, mas providências divinas. Deus não está te castigando para destruir, mas sim disciplinando para te restaurar. As tempestades que Ele permite são educativas, guiando-nos de volta ao centro da Sua vontade.
Em vez de nos distanciarmos de Deus, devemos reconhecer o custo de nossa irresponsabilidade e buscar a restauração n'Ele. Somente assim seremos incentivados a viver em obediência e humildade, evitando as armadilhas que nos afastam da luz e da graça divina.
Minha oração é que Deus nos perdoe por trocar seus propósitos por nosso jeito e na disfunção vivermos “jogando na cara” das pessoas nossas frustrações. Que Jesus nos leve de volta ao propósito maior. Que o Espírito Santo coloque um sorriso em nosso rosto nessa jornada.