
"Eu desejo o mal mesmo e a culpa é dele(a)” - 1 Samuel 18.1-30
Sinopse da série
Essa série usa como panorama contextual um programa do SBT chamado "Casos de Família”. Nele se encontrava crises de famílias, claro, de uma forma leve, sarcástica, finalizada com conselhos de uma psicóloga, tudo dentro de um roteiro pré-estabelecido.
Esse programa lembra muito dos casos e crises que vemos hoje, até mesmo a pitada de humor, mas com um pequeno detalhe, não existe um roteiro combinado, o som é em lágrimas e algumas vezes parece que o fim é a tragédia.
Mas isso não é de hoje, há séculos atras, famílias já encaravam os mesmos dilemas. Nessa 2ª temporada da série “Casos de família”, refletiremos sobre o livro de 1ª Samuel onde encontramos narrativas de bastidores problemáticos dos círculos parentais. Palavras, ações, reações, decisões, situações que parecem inviabilizar os laços familiares.
Contextualização do livro
Os livros de Samuel são um registro da transição do período dos Juízes para a monarquia. Depois de Moisés (Êxodo a Deuteronômio) e seu sucessor Josué (Josué), são os Juízes que fazem a condução do povo (Juízes e Rute). Porém eles vivem uma espiral, hora estão em Deus, hora se distanciam. O autor de Juízes vai explicar: “Naquela época não havia rei em Israel; cada um fazia o que lhe parecia certo” (Juízes 21:25).
Diante disso, Israel reivindica um rei, para imitar as nações ao derredor, afinal, parece que o problema é não ter rei. Deus levanta Samuel como o último juiz e o primeiro profeta nacional. Ele ungiu Saul, o primeiro rei e depois Davi, seu sucessor.
Mas os registros de Samuel deixam algo muito claro segundo Tim Chester: "O verdadeiro problema não foi a ausência de um rei, mas a ausência de obediência a Deus como rei.1”. Essa é a tese de nossa série, pois muito pensam que os casos de família hoje, são geradas pela falta de recursos ou pelas dificuldades, quando na verdade, as famílias continuam não aceitando ser conduzidas por Deus e pela vida de Jesus.
Assim, em 1 Samuel 18.1-30, o caso de família que encontramos é: "Eu desejo o mal mesmo e a culpa é dele(a)”.
1- O mal sem limites - v.7-25
Diante do sucesso de Davi, Saul percebe que Davi é alguém que tomará o lugar dele, o que é verdade, mas Saul culpa ele por isso. A partir dai, Saul é tomado por um espírito maligno da parte do Senhor2, lembrando que o Espírito de Deus já tinha se retirado dele (1 Samuel 16.14). Saul se deixa levar pela raiva de forma tão profunda, que cegamente e sem medir as consequências, Saul tenta matar Davi (v.7-11). Mas piora, Saul usa suas filhas como recompensa, viola suas promessas, o que deixa claro que seu interesse de acabar com Davi está acima de tudo e todos (v.12-25).
1 CHESTER, Tim. 1Samuel para você. São Paulo: Vida Nova, 2019, p. 9-10.
2 Isso não significa que Deus enviou o espírito mal como se Deus brincasse com as histórias. Na cultura hebréia se entende que tudo vem do Senhor (Dt. 10.14; Salmo 89.11). O escritor de Samuel entende que tudo é da parte do Senhor pois está debaixo de sua vontade, isso é evidencia da sua soberania (Cl 1.16-17). No fim, as atitudes de Saul são responsabilidade de Saul e suas escolhas revelam que o espírito o maligno se apossou dele (I Samuel 16.14).
Dizemos que o espírito de Deus nos guia, mas ao ser tomado pela raiva, agimos cegamente e sem medir as consequências, com violência física e verbal. E se a raiva rege nosso agir, o Espírito de Deus se retira e só tem um espírito agindo, o espírito maligno.
Muitos nesse estágio, guiados pelo espírito maligno, usam seus familiares. É você que sempre se sentiu o segundo, o menos importante da família, na raiva, usa seus pais/ avós, difamando algum outro familiar, para que ele sejam prejudicados ou que você seja beneficiado. Ou você (cônjuge, avós, divorciados) que usam as crianças (filhos/netos), colocando elas contra seus genitores, exagerando e até mentindo para as crianças, só para descontar raiva que o familiar te fez sentir. Além de você não medir as consequências disso, é bem possível que você esteja agindo por um espírito maligno.
Outros são guiados pelo espírito maligno, violando as promessas. É você marido que prometeu cuidar de sua esposa, mas que diante da fragilidade dela do momento, da limitação física, você age com raiva e não cuida como prometeu. É você esposa que prometeu honrar o seu marido, mas pela raiva dele, você humilha ele na frente de todos. É você filho que prometeu ajudar seus pais, mas pela raiva de eles terem chamado sua atenção, você fica sem falar com eles trancado na bolha do seu celular. Além de agir cegamente, é bem possível que você esteja agindo por um espírito maligno.
Onde o ciúmes e raiva falam mais alto o espírito de Deus se retira, sobra espaço para o espírito maligno fomentar um agir cego e inconsequente, os familiares são usados, as promessas são violadas e o interesse é colocado acima de tudo e de todos!
2 - A raiz do problema - 26-30; 6-8
Apesar de todo o mal que Saul planeja, Davi, humildemente aceita o desafio. Mas o que Saul não contava é que Deus era com Davi, tanto protegendo e dando vitória diante de um plano para ceifar sua vida. Apesar disso, Saul escolhe ter Davi como inimigo pelo resto de sua vida (v.26-30). Mas a raiz de todo esse problema familiar e social está revelada na música em que um povo acha que ter um rei humano é o que ele precisam, em vez de reconhecer que a vitória só foi possível por causa de Deus. E colocar a confiança na força humana, fomenta a comparação, e o que sobra? Raiva (v.6-7).
Por que confiamos na força humana? No início de tudo, Deus criou o ser humano a sua imagem e semelhança. Mas o ser humano rompe com Deus, o espírito de Deus se retira do homem e essa raiva descontrolada entra na humanidade. E desde então temos visto em toda a história o espírito maligno agindo nas famílias pela raiva, com ações e cegas e inconsequentes. Mas Deus enviou seu filho Jesus, ele viveu entre nós, ele levou na cruz a raiva dos religiosos, a nossa raiva, nos perdoou e ressuscitou, para que a partir da sua vida, possamos ser guiados pelo o espírito consolador (João 14.23-26).
Assim, quem está guiando sua vida? Infelizmente alguns familiares estão sendo guiados pelo espírito maligno, talvez serão por toda a vida e nos terão como inimigos, se não tiverem um encontro com Jesus. Diante disso, se somos discípulos de Jesus, guiados pelo espírito, não podemos ser como eles, não podemos tomar familiares como inimigos, que devolvem com raiva o mal que receberam. Os discípulos de Jesus não são guiados pela raiva e nem confiam na força humana, os discípulos de Jesus recebem do Espírito Santo consolo e conselho para responderem com humildade o mal que os cercam.
3- Humildade e aliança - v.1-4
No inicio do texto encontramos Jonatas, filho de Saul, mas com uma atitude totalmente diferente. Davi acabou de vencer um gigante, seu nome está em evidência. Jonatas, uns 30 anos mais velho3, o possível sucessor do reino, em vez do ciúmes ou raiva, Jonatas escolhe o caminho da humildade, amando o jovem Davi pelas suas qualidades (v.1). E enquanto Saul não se importa com Davi, Jonatas, intencionalmente, desenvolve uma aliança, abrindo mão do que tem valor e abençoando Davi (v.2-4).
Diante da evidência que seu cônjuge tem no trabalho, na igreja, na sociedade, em vez de ciúmes ou raiva por ele(a) se destacar, escolha o caminho da humildade. Celebre o dom, apoie nas oportunidade, se alegre por ver o que Deus está fazendo na vida dele(a), desfrute desse momento juntos. Diante de familiares (irmão, pais, filhos, parentes) que sempre alegram os encontros, que tudo muda quando eles chegam, não seja guiado pelo ciúmes e raiva, mas escolha o caminho da humildade. Celebre a presença, não fique tentando difamar, dando indiretas para ofender e machucar. Você não é menos importante por lavar a louça enquanto o outro está fazendo as piadas, celebre por vocês poderem estar juntos, essa realidade pode estar chegando ao fim e você sentirá falta.
Porém, você que está do outro lado, não use sua posição ou sua facilidade para humilhar, para impor ou controlar algo, doe o seu tempo e recursos para abençoar seus familiares. Esteja disposto para apoiar seu cônjuge, gaste seu tempo capacitar seus filhos. O que adianta ganhar o mundo todo e perder sua família? O que adianta ter admiração e sucesso na sociedade se seus filhos não te respeitam? Seja intencional na aliança, em desenvolver e manter uma aliança de admiração e cuidado com seu cônjuge, com seu filho, com seus pais. Aliança começa com o caminho da humildade, se doando pelo outro, para que o mesmo, complete esse círculo que só permanecerá sendo desenvolvido, não por um sentimento, mas por uma decisão.
Minha oração é que Deus nos perdoe por sermos guiados pelo ciúmes, pela raiva, pelo mal que causamos sem medir as consequências. Que Jesus nos liberte desse espírito maligno que tem guiado nossos caminhos. E que o Espírito Santo seja o consolo para o mal que nos alcança e seja o conselho para o caminho da humildade.
3 É fácil imaginar que Davi e Jônatas tinham a mesma idade — mas não tinham. Davi tinha trinta anos quando se tornou rei (2Sm 5:4). Saul reinou durante quarenta anos (At 13:21). Portanto, Davi deve ter nascido no décimo ano do reinado de Saul. Jônatas já estava lutando com Saul durante o terceiro ano do reinado de seu pai (13:1), e um soldado israelita precisava ter pelo menos vinte anos (Nm 1:3). Assim, no décimo ano do reinado de Saul, quando Davi nasceu, Jônatas deveria ter no mínimo vinte e sete anos. Isso significa que Jônatas é velho o suficiente para ser o pai de Davi. CHESTER, Tim. 1Samuel para você. 2019, 143.